
Todas as situações percebidas, sentidas e vivenciadas obedecem ao processo que a Gestalt-terapia[1] chama de formação figura e fundo, este processo é indissociável, onde um não existe sem o outro.
A figura sempre emerge de um fundo indiferenciado, tendo sua energização feita por uma necessidade que deve se sobre sair as outras necessidades. Ou seja, no organismo emerge sempre a figura, que estiver ligada a necessidade de maior urgência e/ou emergência. Deste modo, a figura se mostra bem definida em contraponto a um fundo que a qualifica e lhe confere significado.
O fundo é composto a partir das experiências vivenciadas e significadas durante toda a vida, logo, ele vive mudando e se ressignificando do nascimento a morte do indivíduo. Podemos dizer que compõem o fundo tudo que não está na figura e que paradoxalmente sustenta essa mesma figura, atribuindo-lhe significado.
Tendo em vista que o processo de emergir de uma figura obedece às necessidades mais urgentes para o organismo, fica evidente que só pode emergir uma figura por vez e que o emergir de duas ou mais figuras geraria uma indefinição, gerando confusão que poderia colocar o organismo em perigo.
Imagine uma situação onde “um homem está faminto e no meio de uma rua movimentada, seu alimento cai no chão… ele olha e vem vindo um caminhão que passará por cima de seu alimento”, sem uma seleção adequada da necessidade mais urgente ou mesmo de uma decisão rápida e eficiente, ele pode por fim a todas as suas necessidades (morrer).
Muitas vezes se ouve pessoas dizendo: “eu consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo", na verdade, elas consideram que conseguem fazer várias coisas em um curto período de tempo. “Tente assoviar e comer farinha ao mesmo tempo”, como dizia meu avô, você não vai fazer nenhuma das duas coisas direito.
Uma figura é estabelecida a todo o momento, umas por segundos, outras por minutos, etc., e isso nunca para, durante o estado de vigília.
Podemos então dizer que figura e fundo é um relacionamento sem fim, sempre em movimento, uma figura depois da outra.
Se a figura é forte e clara conseguimos saber claramente o que fazer, se a figura é fraca ou o processo de formação da figura sofre influências que a deformam, desfocam ou enfraquecem, temos uma figura mal formada e aí podemos ter dificuldades em reconhecer qual necessidade está em questão, e assim, em satisfazer esta necessidade que gerou a figura.
Assim podemos começar a criar um conflito interno que pode culminar na frustração, sofrimento e adoecimento.
[1] Abordagem teórico-prática em psicologia desenvolvida por Frederick Salomon Perls (Fritz Perls) e colaboradores, com enfoque fenomenológico-existencial-humanista.
*Creditos da foto: https://thumbs.dreamstime.com/z/jovem-cantor-de-rua-toca-m%C3%BAsica-com-v%C3%A1rios-instrumentos-san-francisco-ca-usa-abril-m%C3%BAltiplos-para-turistas-ganhar-dinheiro-175884984.jpg
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